“Não há vivos, há os que morreram e os que esperam a vez.” Carlos Drummond de Andrade
sábado, 31 de janeiro de 2015
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Fiz o Teste “Você é Viciado em Internet” e Acertei Tudo
janeiro 26, 2015
Por So Sad Today

Ilustrações por Joel Benjamin.
O
vício em internet ainda não é uma doença oficialmente reconhecida no manual de
diagnósticos DSM-V. Mas uma busca recente por "ajuda com vício em internet"
revelou vários centros de
reabilitação para viciados em
internet, terapeutas especializados nessa condição e um Viciados em Internet e Tecnologia
Anônimos.
Estou
limpa e sóbria de drogas e álcool há um certo tempo e sei muita coisa sobre
vício, por isso consigo reconhecer exatamente o que está acontecendo comigo em
relação à internet: estou tentando remendar um buraco dentro de mim que não
pode ser consertado com coisas externas. A internet me fornece dopamina,
atenção, amplificação, conexão e fuga. Ela também me distrai, decepciona e
paralisa, além de catalisar uma sensação falsa de identidade. Estou me
agarrando às porcarias que ainda posso usar para ficar loucona numa festa tosca
de dopamina.
Além
disso, não sei o que estou fazendo. Ultimamente sinto que a internet está me
penetrando. Sinto como se não houvesse mais um limite em que eu termino e a
internet começa. Então, estou meio preocupada.
Mas
minha obsessão com a internet é realmente um vício? Decidi responder essa
pergunta fazendo um teste do Psych Central chamado "Você é
Viciado em Internet?". O teste é de múltipla escolha, mas minha
relação com a internet é complexa; então, escolhi dar minhas respostas em forma
de ensaio. Também escolhi responder esse teste publicamente – não tanto para me
responsabilizar por isso, mas por não haver lugar melhor para confrontar os
próprios demônios do que a internet com todos os seus viciados (especialmente
vocês, babacas dos comentários).
OK.
Vamos lá.
1.
Com que frequência você descobre que ficou na internet mais tempo do que
pretendia?
Gosto
de usar meu iPhone no banheiro. Passo horas no banheiro sem fazer xixi. Às
vezes, é o meu próprio banheiro. Às vezes, estou no mundo real e peço licença
para ir ao banheiro. Sempre digo que são cinco minutos. Nunca são cinco
minutos. Eu caio num buraco, e sumir é uma sensação agradável. As pessoas acham
que morri. Eu gosto.
Tento
definir regras para usar a internet. O ato de definir regras significa que
provavelmente sou viciada nisso. Tipo, pessoas que não são viciadas não
precisam definir regras sobre as coisas. Elas simplesmente vão lá e fazem.
Minhas
regras incluem: dez minutos de meditação antes de ligar o celular ou o
computador pela manhã; nada de redes sociais antes do meio-dia; só 120 minutos
em sites de redes sociais por dia; apenas dois tuítes por dia, e só depois das
19h; e detox de internet por 24 horas nos finais de semana. Regras que
desobedeço diariamente.
2.
Você prefere a excitação da internet à intimidade com seu parceiro?
Sim.
Claro. A menos que o parceiro seja um estranho virtual em quem projetei toda
uma narrativa de fantasia e estamos nos pegando pela primeira vez num quarto de
hotel.
"Quando
alguma coisa real tem de ser feita, tipo arrumar a cama ou pagar uma conta,
sinto como se isso fosse me matar."
3.
Você negligencia tarefas domésticas para passar mais tempo online?
Quando
alguma coisa real precisa ser feita, tipo arrumar a cama ou pagar uma conta,
sinto como se isso fosse me matar. Tipo, sinto que uma mãe cruel e opressora
está vindo atrás de mim e que o mundo é feito apenas de tarefas sísificas, em
que você tem que empurrar uma pedra morro acima e sempre ser esmagado por ela
infinitamente. Uma vez, eu estava lavando calcinhas à mão na pia e entrei no
Twitter, aí a pia transbordou. A vizinha de baixo, que tinha acabado de ter um
bebê, mandou o zelador do prédio subir. Ele invadiu meu apartamento e eu pensei
que ele era um serial killer. Então, sim.
4.
O seu trabalho (ou estudo) sofre com a quantidade de tempo que você passa
online?
Meu
trabalho é online.
5.
Você forma novos relacionamentos com pessoas online?
Prefiro
estar na internet, me envolvendo com pessoas semi-imaginárias de um jeito
falso, do que na vida real, me envolvendo com gente real de um jeito real. Não
que tudo na internet seja falso. Criei conexões profundas com pessoas que nunca
encontrei pessoalmente (ou talvez eu estivesse me conectando comigo mesma, com
meu próprio desejo de quem eu queria ser) através da internet. Às vezes,
comparo as pessoas reais da minha vida com as pessoas da internet e sempre
penso: por que as pessoas reais não podem ser como as pessoas da internet?
Talvez porque as pessoas reais não são pixeladas. Seus erros e chatices não
podem ser reaproveitados na fantasia. Eu realmente preciso ver as pessoas reais
e ser vista por elas. Se as pessoas nunca se tornam reais, é mais difícil elas
te desapontarem. É por isso que a internet é uma boa para pessoas tristes. Você
pode estar com pessoas sem ter de estar realmente com pessoas.
6.
As pessoas da sua vida reclamam da quantidade de tempo que você passa online?
A
pessoa com quem tenho um relacionamento sério chama meu celular de meu
"namorado". Ele fica eufórico quando a bateria acaba. Uma vez, ele ameaçou
jogar meu celular da janela. Ele se preocupa muito mais com o jeito como uso a
internet para deixá-lo de fora do que com qualquer coisa que eu possa fazer
sexualmente com outra pessoa. Falo pra ele que não estou deixando-o de fora.
Estou deixando a realidade de fora. Infelizmente, ele é real.
7.
Você fica na defensiva ou reservada quando alguém pergunta o que você faz
online?
É
mais o ato de estar online, em si, do que o que eu estou fazendo lá. Todo mundo
sabe o que eu estou fazendo lá. Estou tuitando. É mais a coisa do banheiro. Eu
falo para a pessoa com quem estou saindo: "Tenho que cagar". E sumo pelo resto
da noite.
Na
verdade, uma coisa de que tenho vergonha é de gostar de pornô "female
friendly". Tipo, eu queria não gostar de pornô "female friendly". Eu queria
que, quando eu estivesse assistindo ao Xander Corvus comendo a boceta da "babá"
Melanie Rios, eu não pensasse "Meu Deus, ele está tão apaixonado por ela. Tipo,
ele devia estar apaixonado por ela todo o tempo em que ela foi a babá dele. Ele
sonhava com esse momento e agora está acontecendo, ele definitivamente vai
querer ficar com ela para sempre!". Eu queria não ser assim.
8.
Você já notou que sua performance ou produtividade no trabalho sofre por causa
do tempo que você passa online?
Óbvio.
9.
Você confere seu e-mail antes de qualquer coisa que precisa fazer?
Não
consigo mais me envolver com o e-mail, isso geralmente exige mais de 140
caracteres. Se mando um e-mail, uso a Siri e dito a mensagem. A internet
destruiu minha capacidade de concentração de um jeito que não consigo nem
escrever um e-mail. A internet me tirou da coisa do e-mail. O iPhone me tirou
do computador. Se o computador é a cocaína, o iPhone é o crack. E eu fumo essas
pedrinhas de crack antes, durante e depois de tudo.

10.
Você tem um ataque, grita ou age com nervosismo se alguma coisa te incomoda
quando você está online?
Geralmente
entro num estado comatoso e não tenho mais consciência do mundo ao meu redor.
Quando entro no buraco do coelho, não vejo mais você.
11.
Você se sente ansiosa esperando o momento em que vai poder ficar online novamente?
Já
tive tremedeira.
12.
Você bloqueia pensamentos perturbadores sobre a sua vida com pensamentos amenos
da internet?
Meu
maior medo é morrer. A morte é OK, mas morrer – a incapacidade de respirar, o
último ataque de pânico – é uma coisa realmente assustadora. Também tenho medo
da vida em si, já que a morte é implícita na vida. Às vezes, a vida parece
hiper-real. Tipo, olho para as pessoas e elas parecem robôs, ou como se fossem
feitas de borracha, e acho que estou testemunhando a ascensão da matrix,
mas provavelmente é só ansiedade. Nesses momentos, penso "Caramba, ninguém
realmente sabe o que está acontecendo aqui". Minha terapeuta não ajuda. Ela não
sabe explicar o que está acontecendo melhor do que as outras pessoas. Ela não
pode me impedir de morrer. A internet também não, mas é um bom lugar para
enterrar essa adrenalina. É mais fácil que gente de borracha.
Outra
coisa de que tenho medo é de rejeição. Se alguém vai me rejeitar, prefiro que
seja eu. Quando um ser humano real me rejeita na vida real ou percebo uma
rejeição na vida real, preciso de uma confirmação de que mereço existir neste
planeta. E consigo essa confirmação angariando amor falso de estranhos através
de um avatar que parece comigo. Essas tentativas de reparar meu eu central, ou a
falta de um eu central, sempre resultam numa cascata de tuítes. E imediatamente
acompanho isso deletando todos ou a maioria dos tuítes e entrando numa espiral
de vergonha.
13.
Você acha que a vida sem internet seria chata, vazia e sem prazer?
Não,
acho que seria linda. Eu me imagino numa praia rochosa, segurando algo verde.
Provavelmente uma alga marinha, mas talvez seja musgo. Bebo muito chá de
camomila. Eu "apareço" por mim mesma. É, seria vazia.
14.
Você se vê dizendo "Só mais alguns minutos" quando está online?
Se
tem uma coisa de que eu não gosto, é o tempo linear. A internet me faz sentir
que posso manipular o tempo. Mas não posso; então, digo "Mais cinco minutos" e
caio num vórtex. Tenho apagões.
15.
Você se preocupa com a internet quando está offline ou fantasia sobre estar
online?
Óbvio.
"Acho
que a internet reproduz o sol."
16.
Você perde o sono por ficar online até tarde da noite?
Hoje,
acordei às 3 da manhã e entrei na internet. Agora são 6h30. Fiz isso toda noite
nesta semana, menos na segunda, quando não dormi nada. Acho que a internet
reproduz o sol. Talvez gente gótica, emo ou altamente sensível não devesse
estar na internet. Estamos fadados a definhar.
17.
Você tenta esconder o tempo que fica online?
Quando
ainda bebia, eu costumava aparecer nos bares, já bêbada, e pedir logo uma
bebida. Eu fingia que o primeiro drinque no bar tinha me deixado bêbada. Minha
conta no Twitter, So Sad Today, é anônima, porque tenho vergonha do quanto
tuíto. Acho que há uma ligação aí.
18.
Você escolhe ficar mais tempo online em vez de sair com outras pessoas?
A
internet significa que estou com pessoas sem precisar sair de casa. Além disso,
posso ser quem eu quiser. Tipo, posso ser um mago fantástico na internet, mas
na vida real estou aqui, comendo lasanha do Vigilantes do Peso e usando um
short com estampa de trompetes.
19.
Você já tentou cortar o tempo que passa online e fracassou?
Todo
dia.
20.
Você se sente deprimida, de mau humor ou nervosa quando está offline, o que acaba
quando você volta a ficar online?
Na
verdade, muitas vezes é a internet que me deixa deprimida, de mau humor e
nervosa. Tipo, entro lá e, dois segundos depois, penso "Foda-se tudo". Mas a
vida real consegue ser ainda pior.
Mesmo
quando a internet é um saco, ela possui um potencial infinito. Eu sei que
determinado site está uma merda hoje, porque estava uma merda um segundo atrás,
mas continuo recarregando a página. Eventualmente isso muda. Mas a vida não é
assim. Quando você fica clicando em recarregar na mesma coisa na vida real,
você só consegue a mesma coisa. Cometer os mesmos erros + esperar resultados
diferentes = merda.
Na
verdade, talvez isso não seja inteiramente verdade. Há algo de espiritual em
coisas repetitivas, mantras, rosários, Ave Maria – ou como o Prince disse: prazer
na repetição. O problema com o vício é que o prazer da repetição dá lugar a
uma combinação de prazer e problemas. Depois, só há problemas mesmo.
---
Acho
que o alcance que a internet tem em mim tem algo a ver com luz e vazio. A luz e
o vazio são sensuais e me fazem sentir que qualquer coisa é possível. Eu sei
que a vida tem o mesmo potencial infinito que a internet. Mas, infelizmente,
sou obrigada a ser uma adulta na vida real. Na internet, eu ainda tenho 16
anos.
Além
disso, eu me saio bem na internet. Se o Twitter é um videogame, eu já terminei
o jogo. Nem sempre me saio bem na vida real. Ainda não superei o fato de que
vou morrer um dia. Qual é o cheat code da vida?
Não
me vejo trilhando o caminho do meio na internet. Provavelmente isso vai ter que
ser tudo ou nada. Redução de danos nunca deu certo para mim. Quando um pepino
vira picles, não dá para transformá-lo de volta num pepino. E a internet me
transformou num picles há muito tempo.
Fotos Chocantes Supostamente Mostram o Estado Islâmico Jogando Gays de um Prédio
janeiro 22, 2015
Por Equipe VICE News
O
Estado Islâmico liberou fotos que supostamente mostram militantes jogando
homens gays do topo de um prédio em Mossul, Iraque.
Outras
fotos mostram homens supostamente acusados de roubo sendo crucificados em praça
pública.
A
montagem também inclui fotos de militantes apedrejando uma mulher até a morte.
As
imagens teriam sido tiradas de um vídeo do Estado Islâmico, que não está
incluído no site onde as fotos foram postadas. O site declara que
foi criado em 15 de janeiro por uma organização chamada "Centro de Mídia da Província
Ninawa" e ostenta o logo e a bandeira do Estado Islâmico.
O
primeiro still mostra uma multidão reunida numa praça num dia nublado. A imagem
foi feita do topo de um prédio que parece ter sete ou oito andares. A legenda
diz "Muçulmanos assistem à aplicação da lei".

A
próxima foto mostra um homem prestes a ser jogado do prédio por dois oficiais
do Estado Islâmico, aparentemente.

O
texto no pé da imagem se refere aos prisioneiros como "pessoas de Ló", se
referindo aos habitantes das cidades bíblicas
de Ló, Sodoma e Gomorra,
cuja população é punida por Deus no Velho Testamento por seus atos sexuais
divergentes.
Alguns
muçulmanos acreditam que Maomé disse que a homossexualidade deve ser punida com a
morte.
A
próxima foto é apavorante e mostra o homem em pleno ar, caindo do prédio, com
outro corpo no concreto abaixo dele.

A
próxima foto é de dois corpos na calçada em frente ao prédio, com uma poça de
sangue próxima.

A
foto seguinte mostra um oficial do Estado Islâmico lendo o que parece ser as
acusações contra aqueles que enfrentam a execução. Um cartaz pendurado no
prédio parece mostrar punições por desobedecer a lei.

Dois
homens vendados estão amarrados com os braços abertos na caçamba de um
caminhão. Um dos homens está com o dedo indicador levantado, um símbolo
frequentemente usado por combatentes do Estado Islâmico para indicar sua crença
em Deus.

Depois
os prisioneiros são mostrados numa praça pública. Combatentes mascarados do
Estado Islâmico atiram com pistolas automáticas nas cabeças dos homens, por
trás.

Um
dos executados parece estar usando botas de combate, o outro, sapatos. Os dois
têm barba em estilo conservador, sugerindo talvez que eram membros do Estado
Islâmico que se desviaram. Os dois homens jogados do prédio estavam descalços e
não pareciam ter barba.
A
próxima montagem parece vir de outro dia e local, mostrando uma mulher de
nicabe preto, ou cobertura completa islâmica, numa área arborizada ensolarada.
Um homem perto dela segura uma bandeira do Estado Islâmico, enquanto o que
parece ser um oficial do EI lê um papel. Uma fileira de pedras pode ser vista à
esquerda da imagem.

A
próxima foto parece ter sido tirada algum tempo depois, com o corpo já sem vida
da mulher encolhido em posição fetal entre pilhas de pedras e suas meias vermelhas
aparecendo por debaixo do nicabe sujo de terra. Um homem está em cima dela,
jogando a pedra final.

A
última foto mostra o corpo dela coberto com uma lona azul.

O
Estado Islâmico vem executado milhares de pessoas, incluindo jornalistas ocidentais, trabalhadores
humanitários, soldados iraquianos e sírios, e outros combatentes sírios de
oposição, muitos por
decapitação. O grupo busca impor sua interpretação puritana do Islã em áreas
sob seu controle, que incluem grandes partes da Síria e do Iraque. O grupo
continua a expandir seu território na Síria, mas seu avanço no Iraque foi
interrompido por ataques aéreos comandados pelos EUA.
A
divulgação dessas imagens coincide com a liberação de um novo vídeo pelo Estado Islâmico, onde combatentes, falando
em francês, ameaçam atacar a Europa e os EUA.
Um
dos homens pede que simpatizantes realizem ataques ao redor do mundo. "Façam o
que puderem. Matem, queimem os carros deles, queimem as casas deles", ele diz.
O
exército norte-americano disse na quinta-feira passada que 400 de suas tropas serão mobilizadas
para o Oriente Médio, para treinar forças de oposição "moderadas" sírias como
parte do esforço contra o Estado Islâmico.
Tradução:
Marina SchnoorOs Clubes Armados Revolucionários que Patrulham os Bairros Negros de Dallas
janeiro 19, 2015
Por Aaron Lake Smith
Num dia quente de outono em South Dallas,
dez revolucionários usando kaffiyehs e máscaras de esqui marcham pelo perímetro
do Parque Dr. Martin Luther King Jr., gritando "Chega de porcos na nossa
comunidade!". A disciplina militar está em pleno vigor. Os corredores respondem
a dois ex-rangers do exército de chapéus de abas largas camuflados para o
deserto com "Sim, senhor!". O Huey P. Newton Gun Club realiza aulas de
treinamento físico e autodefesa todo sábado. Homens com camisetas do Che correm
com pesos e rolam pela grama, lutando um com o outro com facões cegos. "Eu
costumava saudar a bandeira!", cantam os cadetes. "Agora a uso de pano de
chão!"
"Uma faca muda todo o jogo", explica um dos
sargentos de exercício, que responde pelo nome de Chief, demonstrando como
fazer uma manobra de corte e perfuração no torso de uma garota de 20 anos de
olhos grandes. Um mendigo passa na rua. Ele vem pedir uns trocados, mas fica
interessado. "O que é isso? Autodefesa? Legal." Um grupo de motoqueiros negros
levanta os punhos fechados quando passa pela praça.
Charles Goodson, o cofundador vegan de
dreadlocks de 31 anos do clube, cresceu a menos de um quilômetro daqui. Ele e Darren
X, o marechal nacional do Partido dos Novos Panteras Negras, vêm se organizando
ao redor de questões de violência policial em Dallas na última década. Goodson
diz que eles trabalharam juntos pela primeira vez ano passado, durante um
comício armado numa cidadezinha do Texas chamada Hemphill, onde eles
protestaram contra o fracasso da polícia ao investigar o assassinato de um
homem negro chamado Alfred Wright. Os Novos Panteras Negras de Dallas andam
armados há anos. Tentando engrenar os esforços da organização, eles formaram o
Huey P. Newton Gun Club, unindo cinco organizações paramilitares negras e
pardas sob uma só bandeira. "Aceitamos todas as pessoas oprimidas de cor que
tenham armas", me diz Darren X, 48 anos, numa voz grossa de barítono. "A agenda
envolve ir até nossas comunidades e educar nosso povo sobre as leis de posse de
arma federais, estaduais e locais. Queremos parar o fratricídio, o genocídio –
todos os 'cídios'."

Os membros do Huey P. Newton Gun Club marcham no bairro Dixon Circle em Dallas. Todas as fotos por Bobby Scheidemann.
Em agosto passado, o clube realizou sua
primeira patrulha abertamente armada por Dixon Circle, um bairro
predominantemente afro-americano em Dallas, onde a polícia matou um jovem negro
desarmado chamado James Harper em 2012. Cerca de suas semanas antes do comício,
um policial branco de Ferguson, Missouri, matou Michael Brown, um adolescente
negro desarmado, e em julho, um policial branco matou Eric Garner, um pai de
família de Staten Island, com um mata-leão, alegando que ele estava vendendo
cigarros não taxados. Em Dallas, vários outros militantes negros cercam um
oficial de campo, segurando fuzis e AR-15s. "Isso é perfeitamente legal!",
berrou o líder. Gritos de "Justiça para Michael Brown! Justiça para Eric
Garner!" vieram da formação. "Não vamos mais permitir que porcos matem nossos
irmãos e irmãs e não fazer nada", o líder respondeu. "Poder negro! Poder negro!
Poder negro! Poder negro!"
Desde então, diz Goodson, doações para o
clube vem surgindo de todo o país e o número de membros dobrou. Apoio tem vindo
de fontes improváveis, como Russell Wilson, um chefe de escritório da
procuradoria do distrito de Dallas. "Eles têm o direito de fazer isso", ele me disse.
Ele acredita que os membros do clube estão "restaurando a confiança das pessoas
e dizendo 'Não vamos continuar sendo manipulados aqui!'".
No parque, pergunto a Goodson o que ele
acha que aconteceria se um grupo de autodefesa de negros armados aparecesse em
Ferguson. Enquanto conversamos, um sargento atrás dele ordena que dois membros
do grupo lutem por suas vidas. "Acho que isso acordaria os EUA."

Membros do Huey P. Newton Gun Club marcham pelo bairro Dixon Circle em Dallas.
Casos de civis mortos por policiais nos EUA
atingiram um pico em 20 anos em 2013, apesar da incidência de crimes violentos no
país ter caído no geral. De acordo com estatísticas do FBI, a polícia norte-americana
matou 1.688 pessoas entre 2010 e 2013. O número de negros e pardos mortos pela
polícia provavelmente é muito maior, mas faltam dados para saber exatamente
quantas pessoas foram mortas. Poucos dos 12 mil departamentos de polícia e de
xerife dos EUA reportam tiroteios envolvendo policiais. Mas com base nos dados coletados,
de acordo com um estudo da ProPublica, jovens negros têm 21 vezes mais chance
de serem mortos pela polícia do que jovens brancos.
"O que vimos em Ferguson é só a ponta do iceberg",
a presidente da National Bar Association, Pamela Meanes, disse ao Dallas TV em
agosto, pedindo que o Departamento de Justiça investigasse departamentos de
polícia em 25 cidades, incluindo Dallas. Recentemente, autoridades federais dos
EUA caíram pesado sobre os departamentos de polícia de Albuquerque e Cleveland
pelo uso desnecessário de tasers, usados em suspeitos já algemados; pelo uso de
força excessiva contra deficientes mentais, e por sacar e atirar em suspeitos
que não representavam perigo.
David Brown, o chefe de polícia
afro-americano de Dallas, disse que vai rever o uso da força pelo departamento,
e tem criticado abertamente o departamento de polícia de Ferguson depois da
morte de Michael Brown. (O próprio filho de David Brown, David Brown Jr., foi
morto pela polícia depois de atirar num policial em 2010.) Apesar de Brown
estar tentando fazer reformas durante seu mandato, o Departamento de Polícia de
Dallas tem um desempenho péssimo. Os policiais da cidade balearam pelo menos
185 pessoas desde 2002. Setenta e quatro por cento dos tiros fatais foi contra
negros e hispânicos, de acordo com o relatório "A History of Violence",
compilado através de pedidos de abertura de registros pelo grupo
Dallas Communities Organizing for Change. A polícia de
Dallas baleou 14 pessoas apenas em 2014, entre elas Jason Harrison, um doente
mental de 38 anos que foi morto por policiais depois de supostamente ameaçá-los
com uma chave de fenda. O irmão de Harrison teve que limpar o sangue dos
degraus da frente de sua casa com um rodo depois do incidente. A família entrou
com uma ação contra a cidade por morte ilícita em outubro.

Membros do Huey P. Newton Gun Club marcham pelo bairro Dixon Circle em Dallas.
Quando David Brown e Craig Watkins,
procurador do distrito de Dallas que está deixando o cargo e que também é
negro, realizaram uma série de reuniões na prefeitura depois da morte de
Michael Brown, eles se depararam com histórias sobre perfilamento racial,
gritos de "eles estão matando homens inocentes" e mães enlutadas tentando
conseguir cópias de vídeos da polícia. Se Dallas, com sua equipe diversa e
planos de unidade de direitos civis, não consegue impedir a morte de homens
negros e pardos, não é de se admirar que soluções mais radicais, como o Huey P.
Newton Gun Club, estejam ganhando impulso.
Dallas ganhou o apelido de "Cidade do Ódio"
depois do assassinato de John F. Kennedy em Dealey Plaza em 1963. Mas onze
meses antes, Martin Luther King Jr. foi aterrorizado pela mistura convulsiva de
brancos cheios de ódio, anticomunistas e membros da John Birch Society. Seu discurso
sobre segregação e o sonho americano no Music Hall do Fair Park, em janeiro
daquele ano, foi acompanhado por ameaças de bomba e grandes protestos. De
acordo com
The Accommodation: The Politics of Race in an American City,
um livro sobre a história das relações de raça em Dallas escrito por Jim
Schutze, na década de 50 e 60, a liderança e o clero negro se aliaram à elite
empresarial branca para manter o movimento de direitos civis fora da cidade.
"Não há movimento em Dallas", disse o veterano texano dos direitos civis
reverendo Peter Johnson. "Jackson tem um movimento, Biloxi tem um movimento,
Selma, Birmingham, Louisiana. Texas era o único estado sem movimento pelos
direitos civis." King foi rejeitado e boicotado pelos líderes do clero negro em
Dallas por causa de uma disputa dentro da Igreja Batista envolvendo seu pai.
"Havia um sentimento ruim entre os ministros e MLK Sr.", Schutze me disse
quando nos encontramos em sua casa em Old East Dallas. "Quando MLK Jr. veio com
a Conferência da Liderança Cristã Sulista, ele foi recebido muito mal." As
relações de raça em Dallas permaneceram estagnadas pelo menos até os anos 80.
"Chamamos isso de túnel do tempo", disse Schutze. "Dallas sempre esteve uns 20
anos atrás do resto do país. Você vê que isso não aconteceu realmente – o
despertar – negros e brancos se encarando olho no olho. Vim de Detroit e aqui,
no final dos anos 70 e nos anos 80, era bizarro, como uma propaganda dos anos
50 de frango frito do Coronel Sanders."
Em 1984, Dallas foi a sede da convenção de
reeleição de Reagan – uma ideia arriscada, dada a história da cidade, mas a
cidade foi "a estrela do universo republicano", de acordo com Schutze, que
esteve lá. "O tom era 'Esta é a cidade que nunca cometeu o mesmo erro do resto
do país'", disse Schutze. "Eles nunca deram o braço a torcer. Deus favorece
Dallas porque Dallas tem feito tudo certo. Particularmente nas questões
raciais."

Uma participante da marcha de outubro em Dixon Circle.
O Huey P. Newton Gun Club foi formado
parcialmente em resposta a um grupo de defesa do porte de arma chamado Open
Carry Texas. O Texas é um dos seis estados dos EUA que ainda proíbem o porte
aberto de pistolas, mas que permite o porte de fuzis e espingardas. O Open
Carry Texas ganhou atenção no país em maio do ano passado, depois que fotos de
"caminhadas de porte aberto" se tornaram virais: grupos de caras brancos
desengonçados carregando AK-47s em restaurantes, lojas e cafés forneceram uma
oportunidade conveniente para os liberais do norte zombarem da cultura de armas
do Texas. Ainda assim, o movimento atraiu tanta atenção e apoio que o Open
Carry Texas provavelmente vai conseguir seu objetivo: fazer que o estado aprove
uma nova lei este ano acrescentando pistolas à lista de armas que os cidadãos
podem carregar legalmente.
Surfando nessa onda de entusiasmo, o Open
Carry Texas anunciou em julho que faria uma caminhada por Fifth Ward, Houston,
um bairro predominantemente negro onde o grupo de rap
Geto Boys nasceu. "A comunidade negra tem
tido a bunda chutada há algum tempo", David Amad, um líder branco do Open Carry
Houston, disse a um canal local. "Vamos até lá e ajudar com isso, colocar um
fim nisso." C.J. Grisham, presidente do Open Carry Texas, se comparou então a
Rosa Parks, dizendo a outro
jornal que um grupo pesadamente armado devia caminhar num bairro negro porque
"alguém precisa agir e sentar na frente do ônibus".
Líderes comunitários de Fifth Ward e o
Partido dos Novos Panteras Negras de Houston, liderado pelo carismático Quanell
X, não ficaram impressionados com a oferta de assistência do grupo. O Partido
dos Novos Panteras Negras virou notícia nos últimos anos por colocar uma
recompensa pela cabeça de George Zimmerman e intimidar eleitores na Filadélfia,
onde eles apoiavam Obama e um membro supostamente teria brandido um cassetete
gritando "Vocês vão ser governados por um negro, branquelo!". (O Departamento
de Justiça arquivou o processo.) Recentemente, o grupo foi ridicularizado –
principalmente pela Fox News – como agitadores de fora atuando em Ferguson.
Desde que Darren Wilson, o policial que atirou em Michael Brown, escapou de ser
indiciado, dois novos panteras negras de Ferguson foram levados ao tribunal por
porte de arma, apesar de meios de comunicação de direita dizerem que eles
planejavam explodir o Gateway Arch e assassinar o chefe de polícia de Ferguson.
A liderança sobrevivente do Partido dos Panteras Negras original repudia o
movimento por sua retórica inflamatória e antissemita. Bobby Seale, um fundador
original, me disse que desconfiava que a nova encarnação do grupo era uma
organização de fachada financiada pela direita, "talvez pelos Irmãos Koch". Mas
apesar da reputação ruim do Novo Partido dos Panteras Negras, em Dallas seus
membros são revolucionários atenciosos e profissionais. Eles têm uma
plataforma, uma ideologia, trabalham como barbeiros e eletricistas, e falam
sério sobre política e a importância de estar armado. "O que você vê na mídia
se relaciona a eles num nível nacional, mas a organização é muito diferente num
nível local", me diz Goodson. Darren X diz que seu partido está tentando se
afastar da retórica inflamada de seus líderes e "fazer a transição de poder
negro para poder para todas as pessoas".

Darren X, oficial de campo do Partido dos Novos Panteras Negras.
Dias depois da morte de Michael Brown em
agosto, os Novos Panteras Negras de Houston, líderes da comunidade e membros do
Open Carry Texas se sentaram numa mesa de montar em frente a uma farmácia
Walgreens para tentar discutir a marcha proposta para Fifth Ward. Quinze
policiais de Houston, além de um grupo dos Novos Panteras Negras carregando
fuzis, vigiavam o encontro. A liderança branca de meia idade do Open Carry
tinha chegado desarmada e parecia confusa. O tom dos líderes do bairro era
abertamente hostil.
"Vocês estão entrando em Fifth Ward, na
comunidade negra, como uma insurgência", disse Krystal Muhammad, dos Novos
Panteras Negras.
"Desculpe?", respondeu David Amad, do
Houston Open Carry.
"Vocês são uma insurgência", repetiu
Muhammad.
"Me deixe dizer, só para deixar registrado,
que não queremos vocês aqui", disse Kathy Blueford-Daniels, presidente de
bairro de Fifth Ward.
"Vocês se importam com como as pessoas que
vivem aqui se sentem?", Quanell X perguntou ao fundador do Open Carry Texas, C.
J. Grisham.
"Com certeza", disse Grisham.
"Se vocês estão vindo ajudar, não nos digam
como vão nos ajudar", disse Quanell X. "Pergunte se queremos ajuda."
A negociação logo virou uma gritaria, e a
polícia de Houston interveio para impedir uma briga. Quanell X disse ao Open
Carry que se eles marchassem, seriam correspondidos "arma contra arma". No fim
da reunião, Grisham deu uma entrevista para um canal de TV local. "Ainda não
entendo por que temos que ter uma divisão racial", ele disse. "Não entendo por
que isso tem que ser uma questão racial."

Darren X e sua carabina Hi-Point.
No final da história, o grupo adiou
indefinidamente sua caminhada por Fifth Ward. "Era para ser Fifth Ward
com
o Open Carry Texas, não o Open Carry Texas em Fifth Ward", disse o
porta-voz do Open Carry Tov Henderson, quando o encontrei num estacionamento de
um Home Depot em Lake Worth, um subúrbio de Dallas. Henderson, 35 anos, parecia
um personagem rockabilly de um filme do David Lynch, carregando três pistolas
ocultas e um revólver de pólvora da era dos Confederados preso à perna.
"Queríamos ficar do lado dos afro-americanos e dizer: 'Ei, vocês têm direitos –
é hora de tomá-los. Armas de fogo nos tornam iguais diante dos nossos
agressores".
Mas a tentativa do Open Carry Texas de
trazer os residentes de Fifth Ward para seu lado fracassou, assim como as
tentativas do NRA (Associação Nacional de Rifles da América) em diversificar.
"Vimos isso como um movimento de intimidação – não como pessoas expressando
seus direitos pela Segunda Emenda", diz Darren X. "Eles têm outros lugares para
fazer isso em vez de uma comunidade negra. A comunidade negra já é cheia de
armas. Já sabemos nossos direitos quando se trata de armas." As preocupações
enfrentadas por donos de armas negros são fundamentalmente diferentes das
enfrentadas por donos de armas brancos, e não é difícil imaginar que os
ancestrais dos brancos envolvidos com o direito de porte de armas foram, em
algum momento, fundamentais para manter os negros desarmados e complacentes.
Goodson espera que o Huey P. Newton Gun Club continue crescendo e eventualmente
se torne uma organização mainstream pelo porte de armas, "a alternativa negra
ao NRA".

Um cartaz dos Panteras Negras mostrando Huey P. Newton. Foto por Blair Stapp, por volta de 1967.
Da era colonial norte-americana até pelo
menos o fim dos anos 60, o medo de uma população negra armada era uma das
principais forças por trás da legislação de controle de armas. Em seu
comentário de 2010 sobre o caso
McDonald v. Chicago – em que o tribunal
considerou que a Segunda Emenda se aplica aos Estados, depois que um idoso negro
desafiou a proibição de porte de pistolas em Chicago – Justice Clarence Thomas
escreveu sobre as consequências da rebelião de escravos de Nat Turner de 1831
na Virgínia. "O medo gerado por essas e outras rebeliões levou os legisladores
do sul a tomar ações particularmente cruéis contra os direitos de negros
libertos e escravos de se expressarem ou manter armas para a própria defesa."
De 1842 a 1850, o Texas proibiu explicitamente que negros possuíssem armas de
fogo. Depois da Guerra Civil, temendo uma reação de veteranos e escravos
libertos, o Texas e outros estados sulistas aprovaram uma série de leis
repressivas conhecidas como Black Codes, novamente limitando o direito de
cidadãos negros de portar armas. A marcha armada dos Panteras Negras na Califórnia
em 1967 – comandada por Huey Newton e Bobby Seale – ajudou Ronald Reagan a
conseguir os votos para proibir o porte aberto de armas no Estado. E o Gun
Control Act de 1968 foi aprovado parcialmente em resposta aos tiroteios e
turbulência racial que engolfaram cidades norte-americanas depois do
assassinato de Martin Luther King Jr. em Memphis.
As sementes do que se tornaria o Partido
dos Panteras Negras surgiram nos anos 40, quando veteranos negros voltaram ao
Sul depois da Segunda Guerra Mundial e se viram desumanizados pela segregação.
Antes e durante a era em que a Conferência de Liderança Cristã Sulista, o
Comitê Coordenador Estudantil Não-Violento e King cutucaram a consciência
cristã dos EUA, eram as armas que deixavam os racistas brancos à margem, particularmente
no Sul. A famosa avó "não violenta" do movimento pelos direitos civis no
Mississippi, Fannie Lou Hamer, dizia: "Tenho uma espingarda em cada canto do
meu quarto, o primeiro branquelo que parecer que quer jogar dinamite na minha
varanda nunca mais vai escrever para a mãe". Os Pantera Negras originais se
inspiraram particularmente nos exemplos de Robert F. Williams, presidente de um
ramo renegado da NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de
Cor) e autor do livro
Negroes with Guns. Depois da Segunda Guerra
Mundial, William retornou para sua cidade natal, Monroe, na Carolina do Norte,
e tomou o controle do ramo dormente da NAACP local. Indo contra a liderança
nacional moderada, o ramo de Monroe praticava autodefesa armada. O NAACP Monroe
pegou em armas depois que a Ku Klux Klan tentou arrastar o corpo de um negro de
uma funerária. O homem tinha recebido a injeção letal em Raleigh por
supostamente matar seu senhorio branco, mas o KKK não achava que a execução era
suficiente. Um grupo de 40 negros com rifles, incluindo Williams, guardou o
corpo. "Foi um dos primeiros incidentes que nos fez perceber a que tínhamos que
resistir", escreveu Williams, "e que aquela resistência poderia ser eficiente
se resistíssemos em grupo".

Tina González do Partido de Libertação dos Povos Indígenas.
Em Negroes with Guns, Williams conta
como se viu no meio de uma multidão branca violenta, durante uma campanha em
1961 para permitir que negros usassem a piscina pública da cidade um dia por
semana:
Havia um homem muito velho, um velho branco
no meio da multidão, e ele começou a gritar e a chorar como um bebê, dizendo:
"Que maldito país é esse onde crioulos podem ter armas? Os negros estão armados
e a polícia não pode nem prendê-los!" Ele continuou chorando até que alguém o
tirou do meio da multidão.
Depois de ser repetidamente atacado e
aterrorizado pelo KKK, a polícia e grupos de brancos, Williams concluía: "As
autoridades de Monroe e da Carolina do Norte só agiam para restaurar a ordem
depois, e como resultado direto, de estarmos armados".
Williams, claro, teve que lidar com o
dilema da supremacia branca: suplicar à moralidade branca ou resistir
abertamente. Se armando, Williams colocou a si e à sua comunidade em perigo
considerável, mas se eles não tivessem se defendido, poderiam ter sido mortos.
Williams, como Assata Shakur, escapou do destino de morrer na cadeia que acaba
caindo sobre muitos revolucionários negros. Ele se exilou em Cuba e tinha uma
cópia do ensaio "A Plea For Captain John Brown", de Thoreau, com ele o tempo
todo. Nele, o pai fundador do movimento de desobediência civil não violento
vociferava na defesa dos militantes abolicionistas, que travaram uma
insurreição armada fracassada contra a escravidão. Thoreau escreveu: "Acho que
os rifles e os revólveres foram empregados numa causa justa. As ferramentas
estavam nas mãos daqueles que podiam usá-las".

Darren X e Charles Goodson.
"Estamos tentando expor a contradição", um
homem de aparência frágil, que atende pelo nome Chairman, me diz enquanto tira
fuzis da caçamba de um carro. Estamos num estacionamento de uma loja de
penhores em South Dallas, numa manhã bonita de outubro. O Huey P. Newton Gun
Club está prestes a realizar mais uma patrulha armada por Dixon Circle. Depois
disso, o grupo vai entregar o relatório do
Dallas Communities Organizing for Change sobre violência policial ao
escritório da procuradoria federal, no centro da cidade. Enquanto os membros se
reúnem e penduram suas armas no ombro, um helicóptero da polícia circula
preguiçosamente acima. O clima é tenso. "Quando você vai contra o estado, você
tem que se manter focado", murmura Chairman.
Ele parece preocupado com o pequeno
comparecimento. Apenas uma dúzia de membros já chegou – oito armados, alguns
bem velhos. A AK-47 de Goodson parece ter sido usada pela última vez na Guerra
do Afeganistão de 1979. Em contraste, a AR-15 de Darren X é nova em folha.
"Sabemos que nossas armas insignificantes não seriam nada para a polícia de
Dallas", diz Goodson, "mas o que eles temem é nos ver armados". A maioria dos
participantes está de preto e tem dreadlocks, usando os broches icônicos dos
Pantera Negras. Stu, o solitário homem branco, está usando uma camisa de botão
e uma calça cáqui engomada.
Enquanto a marcha armada enche o
estacionamento, uma mulher estaciona um PT Cruiser para falar com Darren X.
"Preciso te ligar se algo acontecer comigo. Ninguém me ajuda aqui em Dalas – a
polícia não me ajuda. Qual seu número?" Darren dá seu celular a ela e o grupo
começa a marchar.
"Quem somos? Huey P!", canta a milícia,
passando entre as calçadas amplas e brancas do bairro, seguida a certa
distância por um carro não identificado da polícia. Eles são recebidos em Dixon
Circle como heróis de guerrilha descendo das montanhas. Homens parados em
frente a bares e pontos de jogo gritam "Poder negro, baby!" e levantam os
punhos. Motoristas passam buzinando e param para tirar fotos.
Adolescentes e crianças espiam
impressionadas através dos portões dos prédios. Uma mulher de 40 anos chamada
Dorothy, corre para fora de um bar com um cigarro pendurado na boca e se junta
ao grupo. Quando pergunto por que ela decidiu vir, ela diz: "Porque eles estão
marchando pelos negros, pelo poder negro e por razões reais".

O clube Huey P. marcha no centro de Dallas.
No final de uma rua, o grupo encontra um
grupo de caras enlameados bebendo alguma coisa de sacos de papel marrom.
"Se juntem a nós, irmãos!", um dos
sargentos pede. "Vamos, precisamos de pessoas do bairro."
"Certo!", diz um dos homens, bebendo de uma
lata mas não fazendo nenhuma tentativa de se mexer.
O clube para e espera.
"Andem com a gente até a igreja!", grita
Dorothy. "Precisamos de vocês!"
"Certo!", o cara grita de volta. Mas eles
não se mexem e a marcha continua.
Num lote do outro lado da rua onde James
Harper foi morto pela polícia em 2012, o grupo finalmente consegue atrair um
morador local. "Esse irmão mora aqui. Esse é o bairro dele. Venha aqui e tire
uma foto com a gente, irmão", um dos sargentos diz. O cara, um magricelo de uns
40 anos, se abaixa num joelho e os membros do grupo fazem pose em volta dele,
segurando suas AK-47s e fazendo cara de durões. Um casal de adolescentes
estaciona seu carro e fica observando, devorando as armas com os olhos.
"Respeito", eles dizem, antes de partir.
No centro de Dallas, membros do Partido de
Libertação dos Povos Indígenas – jovens comunistas latinos de uniforme
verde-oliva e boinas, carregando rifles que parecem da época em que Fidel
desembarcou do
Granma – se juntam à
marcha. Um membro do PLPI carrega seu rifle de cabeça para baixo e outro deixa
sua arma balançar em suas costas e acertar o rosto de outro membro que vem
atrás.
Enquanto acompanho o Huey P., o clima é tão
descontraído, a resposta da polícia é tão plácida, que isso me embala numa
falsa sensação de segurança – mas aí a imagem volta a entrar em foco, e fica
claro quão tênue e possivelmente explosiva é essa situação. Ninguém realmente
sabe o que fazer sobre as disparidades raciais e a violência policial. No final
das contas, mesmo agora que os EUA têm outro "diálogo nacional" franco sobre
raça, com artigos de opinião e estatísticas, a onda de sangue jovem negro
continua fluindo. Todo esse treinamento para o uso da força, aconselhamento
psicológico e esforços contra a discriminação racial não parecem estancar o
problema. Ter câmeras presas ao uniforme dos policiais parece uma boa ideia –
mas o vídeo infame da morte de Eric Garner mostra que mesmo com evidências
conclusivas, um policial pode matar um homem negro por praticamente nada e
escapar das consequências. "Não consigo respirar", Garner disse 11 vezes antes
de morrer. Depois desses fracassos, e considerando a habilidade da polícia
militarizada em esmagar qualquer insurreição pública, se armar pode ser um ato
fútil, mas é uma resposta parcial – e muito americana – há séculos de
humilhação psicológica.

Andrew, um pantera negra original, cumprimenta o clube Huey P.
No prédio federal Earle Cabell, Goodson,
Stu e Chairman deixam suas armas na porta e entram para entregar o relatório
"History of Violence". No quarto andar, Goodson diz à recepcionista atrás de
uma proteção de vidro que tem hora marcada. Ela não sabe do que ele está
falando e liga para a gerente do escritório. Goodson parece desconfortável e
constrangido – dois caras de meia idade de terno estão parados num canto,
olhando e rindo.
A gerente de meia idade chega para
encontrá-lo, parecendo confusa e irritada. Goodson diz: "Nossa posição hoje é
que queremos que o Departamento de Justiça saiba sobre essa questão em
particular. Esse relatório lida com o uso excessivo de força no que se
relaciona ao Departamento de Polícia de Dallas".
Ela não sabe de nenhum relatório ou hora
marcada e diz que eles não têm nada pendente. "Se você acredita ser um
requerente de algum tipo de ação, você pode se registrar aqui. Mas qualquer
relatório que você nos entregar vai ficar parado numa gaveta na sala do fundo.
Nos dar um relatório só vai ser um desperdício do seu papel."
Indo e voltando, eles eventualmente se
comprometem, com Goodson pegando um cartão de visitas dizendo que eles
conversaram e que ela recebeu o relatório, que provavelmente vai parar numa
gaveta onde nunca mais será visto. "Boa sorte com sua ação de cidadão", ela
diz, apertando oficialmente a mão de Goodson.
Lá fora, sob o sol de Dallas, Darren X anda
até o grupo e pergunta "Como foi?". Goodson limpa a garganta e diz que o
relatório foi entregue com sucesso.
Partindo do prédio federal, a marcha pausa
para tirar uma foto em frente a uma grande fonte pública. Eles parecem um pouco
desanimados. Um homem de meia idade passa, vê o grupo e dá meia volta para
cumprimentá-los. Ele se apresenta como Andrew, um pantera negra original. "É a
primeira vez que vejo pessoas armadas – achei que era um grupo militar ou algo
assim", ele diz. "Mas aí ouvi eles dizerem Huey Newton, e foi por isso que
parei. Pensei: 'Uau...' Isso me faz saber que alguma coisa está mudando hoje em
dia."
Tradução: Marina Schnoor
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
JULGAMENTO DO SILK ROAD
Após ter passado o último ano em uma penitenciária federal no Brooklyn,
Ross Ulbricht finalmente está em julgamento em Nova York desde a última
terça-feira (13), onde promotores tentam provar que ele é o cérebro por
trás do comércio online de narcóticos de bilhões de dólares conhecido como Silk Road.
Agentes do FBI prenderam Ulbricht, agora com 30 anos de idade, na seção de ficção científica de uma biblioteca pública de San Francisco em outubro de 2013, sob a acusação de criar e operar o site ilegal sob o pseudônimo Dread Pirate Roberts.
“O Silk Road surgiu como o comércio criminoso mais sofisticado e extenso da internet”, disse o governo em documentos à corte após a prisão de Ulbricht. “O site era usado por milhares de traficantes e demais comerciantes foras-da-lei para distribuição de centenas de quilos de drogas ilegais e demais bens e serviços ilícitos para mais de 100.000 compradores espalhados pelo mundo.”
Ulbricht, um texano educado e de tendências libertárias, vai a julgamento sob acusações de tráfico de narcóticos, distribuição de narcóticos por meio da internet, conspiração para tráfico de narcóticos, atividade criminal contínua, conspiração para cometer e auxiliar e incitar invasão de computadores, conspiração para tráfico de documentos de identificação fraudulentos, e conspiração para lavagem de dinheiro. Ele está diante de uma possível pena de prisão perpétua.
Seu advogado, Joshua Dratel, tem um histórico de defesa em casos complicados, incluindo aí a defesa de um prisioneiro de Guantánamo e um associado da al-Qaeda.
Para conseguir uma condenação, a acusação terá que provar que Dread Pirate Roberts era o responsável pelo Silk Road e que Ulbricht era esta pessoa. O governo juntou um sem-fim de evidências para tanto, uma lista que foi liberada inadvertidamente pela corte e publicada pelo the Daily Dot.
Quando Ulbritcht foi pego na biblioteca, seu notebook continuou aberto e conectado a uma página administrativa do Silk Road com um sumário de suas atividades no site, de acordo com o FBI. O computador também supostamente continha um diário detalhando a criação e manutenção do site, bem como lucros derivados do mesmo na moeda digital semi-anônima conhecida como Bitcoin.
A acusação planeja usar prints destas provas no caso. O advogado de Ulbricht tentou retirar estas evidências do julgamento sob o precedente do caso Estados Unidos versus Vayner, que afirma que tais prints são forjados muito facilmente para serem considerados evidência. A juíza Katherine Forrest decidiu em favor da acusação, mas deixando claro que a defesa pode contestar estas evidências caso a caso durante o julgamento.
“Doei dinheiro à causa porque creio que cada pessoa é dona de seu próprio corpo, e tem o direito absoluto de consumir o que bem entender”, disse ao Motherboard. “A polícia, juízes, e guardas que prendem as pessoas em jaulas por ingerirem substâncias sem a permissão de terceiros são aqueles cometendo o mal e precisam parar."
Se Ross Ulbricht é o DPR e ajudou a facilitar estas interações voluntárias, ele é um herói por dar às pessoas a tecnologia que permitiu que gente pacífica pudesse ignorar as ameaças violentas de terceiros que se dizem políticos e autoridades. Se Ross foi acusado falsamente, e não é DPR, então ele merece a melhor defesa que o dinheiro pode pagar. De qualquer forma, ele merece o apoio de qualquer um que é contra a guerra às drogas”.
O caso tratará de diversas questões nunca discutidas anteriormente em uma corte norte-americana e muitos acreditam que ele definirá precedentes para a privacidade e até que ponto o governo poderá responsabilizar as pessoas pelo conteúdo em seus sites e servidores.
Uma das grandes questões no caso é se o FBI encontrou o servidor do site por meios ilícitos, por meio de hackeamento, o que a defesa argumentou constituir uma busca ilegal sob a Quarta Emenda. Porém, a juíza Forrest rejeitou o argumento por conta de uma tecnicalidade, em outubro. Ela afirmou que Ulbricht não demonstrou substancialmente como os servidores pertenciam a ele, logo ele não teria como afirmar que o hackeamento seria invasão de privacidade. Admitir que os servidores são de Ulbricht, para a defesa, seria como se declarar culpado, mas Forrest disse que ainda assim ele poderia tê-lo feito.
“O réu poderia ter estabelecido seu interesse em privacidade pessoal ao enviar uma declaração sobre juramento que não pudesse ser usada como evidência de sua culpa durante o julgamento (por mais que pudesse ser usada para contestá-lo caso vá depôr como testemunha)”, escreveu a juíza.
“Ainda assim, ele escolheu não o fazê-lo.”
Julia Tourianksi, uma anarquista que protestará do lado de fora do julgamento com seu grupo ativista Brave the World, disse que há muito em jogo.
“Em um sentido mais amplo, este julgamento está testando os limites de quanto o estado pode se meter em nossas liberdades e o quão rápido podem tornar a internet um espaço fechado em que as pessoas se preocupem com imputabilidade e impossibilitados de diálogo e pensamento livres.”
Tourianksi disse temer que a acusação escolha intencionalmente um júri mais velho que não entenda bem os aspectos técnicos do caso. Por conta disso, ela disse que seu grupo ficará do lado de fora da corte durante a leitura do julgamento com cartazes do tipo “Prisão perpétua por conta de um site?”, para lembrar aos membros do júri do peso de sua decisão.
Seu envolvimento com a comunidade Bitcoin também motivou o apoio a Ulbricht, declarou. “Ao lado da liberdade de expressão, um site em que pagamentos anônimos podem ser feitos com Bitcoin é um passo vital para a independência financeira e econômica sem intervenção do estado”, afirmou. “Mas o estado oprime estes direitos sem pensar, e precisamos fazer algo e mostrar que nos importamos”.
Porém, Nicholas Weaver, pesquisador do Instituto Internacional de Ciências da Computação, afirmou que os precedentes em torno deste caso estão sendo exagerados.
“Não vejo este julgamento como tão relevante para a liberdade da internet como a defesa tem feito parecer pro público”, afirmou. “O Silk Road não era um serviço passivo, mas sim uma espécie de serviço de caução, de reputação, e um serviço de resolução de disputas, logo, estava envolvido em cada transação de narcóticos.”
“[O caso] mostra que se você quer ter algo como Silk Road rolando, mude-se para Sochi, porque se o FBI pode te identificar, te prender, te jogar na cadeia com a sentença máxima”, disse. “Se você reparar nas acusações, as relacionadas à drogas mencionam quantidades de drogas que tem penas mínimas obrigatórias muito específicas – e isso é proposital. Se Ulbricht for condenado, vai passar um bom tempo na cadeia.”
A extensão a qual o caso estabelece precedentes só será definida quando o julgamento começar esta semana. Dratel disse que é “difícil prever” quanto tempo os procedimentos levarão, mas ele estima a duração em cerca de quatro semanas.
Tradução: Thiago “Índio” Silva
Agentes do FBI prenderam Ulbricht, agora com 30 anos de idade, na seção de ficção científica de uma biblioteca pública de San Francisco em outubro de 2013, sob a acusação de criar e operar o site ilegal sob o pseudônimo Dread Pirate Roberts.
“O Silk Road surgiu como o comércio criminoso mais sofisticado e extenso da internet”, disse o governo em documentos à corte após a prisão de Ulbricht. “O site era usado por milhares de traficantes e demais comerciantes foras-da-lei para distribuição de centenas de quilos de drogas ilegais e demais bens e serviços ilícitos para mais de 100.000 compradores espalhados pelo mundo.”
Ulbricht, um texano educado e de tendências libertárias, vai a julgamento sob acusações de tráfico de narcóticos, distribuição de narcóticos por meio da internet, conspiração para tráfico de narcóticos, atividade criminal contínua, conspiração para cometer e auxiliar e incitar invasão de computadores, conspiração para tráfico de documentos de identificação fraudulentos, e conspiração para lavagem de dinheiro. Ele está diante de uma possível pena de prisão perpétua.
Ulbricht também é acusado como mandante do assassinato de diversas pessoas que acreditara terem ameaçado o Silk Road. Estas acusações não serão inclusas diretamente no caso, mas poderão ser usadas como evidência para as acusações de conspiração, de acordo com a Wired.ULBRICHT TAMBÉM É ACUSADO COMO MANDANTE DO ASSASSINATO DE DIVERSAS PESSOAS
Seu advogado, Joshua Dratel, tem um histórico de defesa em casos complicados, incluindo aí a defesa de um prisioneiro de Guantánamo e um associado da al-Qaeda.
Para conseguir uma condenação, a acusação terá que provar que Dread Pirate Roberts era o responsável pelo Silk Road e que Ulbricht era esta pessoa. O governo juntou um sem-fim de evidências para tanto, uma lista que foi liberada inadvertidamente pela corte e publicada pelo the Daily Dot.
Quando Ulbritcht foi pego na biblioteca, seu notebook continuou aberto e conectado a uma página administrativa do Silk Road com um sumário de suas atividades no site, de acordo com o FBI. O computador também supostamente continha um diário detalhando a criação e manutenção do site, bem como lucros derivados do mesmo na moeda digital semi-anônima conhecida como Bitcoin.
A acusação planeja usar prints destas provas no caso. O advogado de Ulbricht tentou retirar estas evidências do julgamento sob o precedente do caso Estados Unidos versus Vayner, que afirma que tais prints são forjados muito facilmente para serem considerados evidência. A juíza Katherine Forrest decidiu em favor da acusação, mas deixando claro que a defesa pode contestar estas evidências caso a caso durante o julgamento.

Ross Ulbricht. Crédito: freeross.org
A defesa de Ulbricht está sendo financiada até certo ponto pelo magnata do Bitcoin Roger Ver, que diz apoiar Ulbricht em parte porque é contra a guerra às drogas.“Doei dinheiro à causa porque creio que cada pessoa é dona de seu próprio corpo, e tem o direito absoluto de consumir o que bem entender”, disse ao Motherboard. “A polícia, juízes, e guardas que prendem as pessoas em jaulas por ingerirem substâncias sem a permissão de terceiros são aqueles cometendo o mal e precisam parar."
Se Ross Ulbricht é o DPR e ajudou a facilitar estas interações voluntárias, ele é um herói por dar às pessoas a tecnologia que permitiu que gente pacífica pudesse ignorar as ameaças violentas de terceiros que se dizem políticos e autoridades. Se Ross foi acusado falsamente, e não é DPR, então ele merece a melhor defesa que o dinheiro pode pagar. De qualquer forma, ele merece o apoio de qualquer um que é contra a guerra às drogas”.
O caso tratará de diversas questões nunca discutidas anteriormente em uma corte norte-americana e muitos acreditam que ele definirá precedentes para a privacidade e até que ponto o governo poderá responsabilizar as pessoas pelo conteúdo em seus sites e servidores.
Uma das grandes questões no caso é se o FBI encontrou o servidor do site por meios ilícitos, por meio de hackeamento, o que a defesa argumentou constituir uma busca ilegal sob a Quarta Emenda. Porém, a juíza Forrest rejeitou o argumento por conta de uma tecnicalidade, em outubro. Ela afirmou que Ulbricht não demonstrou substancialmente como os servidores pertenciam a ele, logo ele não teria como afirmar que o hackeamento seria invasão de privacidade. Admitir que os servidores são de Ulbricht, para a defesa, seria como se declarar culpado, mas Forrest disse que ainda assim ele poderia tê-lo feito.
“O réu poderia ter estabelecido seu interesse em privacidade pessoal ao enviar uma declaração sobre juramento que não pudesse ser usada como evidência de sua culpa durante o julgamento (por mais que pudesse ser usada para contestá-lo caso vá depôr como testemunha)”, escreveu a juíza.
“Ainda assim, ele escolheu não o fazê-lo.”
Julia Tourianksi, uma anarquista que protestará do lado de fora do julgamento com seu grupo ativista Brave the World, disse que há muito em jogo.
“Em um sentido mais amplo, este julgamento está testando os limites de quanto o estado pode se meter em nossas liberdades e o quão rápido podem tornar a internet um espaço fechado em que as pessoas se preocupem com imputabilidade e impossibilitados de diálogo e pensamento livres.”
Tourianksi disse temer que a acusação escolha intencionalmente um júri mais velho que não entenda bem os aspectos técnicos do caso. Por conta disso, ela disse que seu grupo ficará do lado de fora da corte durante a leitura do julgamento com cartazes do tipo “Prisão perpétua por conta de um site?”, para lembrar aos membros do júri do peso de sua decisão.
Seu envolvimento com a comunidade Bitcoin também motivou o apoio a Ulbricht, declarou. “Ao lado da liberdade de expressão, um site em que pagamentos anônimos podem ser feitos com Bitcoin é um passo vital para a independência financeira e econômica sem intervenção do estado”, afirmou. “Mas o estado oprime estes direitos sem pensar, e precisamos fazer algo e mostrar que nos importamos”.
Porém, Nicholas Weaver, pesquisador do Instituto Internacional de Ciências da Computação, afirmou que os precedentes em torno deste caso estão sendo exagerados.
“Não vejo este julgamento como tão relevante para a liberdade da internet como a defesa tem feito parecer pro público”, afirmou. “O Silk Road não era um serviço passivo, mas sim uma espécie de serviço de caução, de reputação, e um serviço de resolução de disputas, logo, estava envolvido em cada transação de narcóticos.”
Porém, Weaver afirma que a gravidade das acusações contra Ulbricht sugere que o FBI esteja querendo dar um exemplo.A GRAVIDADE DAS ACUSAÇÕES SUGERE QUE O FBI ESTEJA QUERENDO DAR UM EXEMPLO
“[O caso] mostra que se você quer ter algo como Silk Road rolando, mude-se para Sochi, porque se o FBI pode te identificar, te prender, te jogar na cadeia com a sentença máxima”, disse. “Se você reparar nas acusações, as relacionadas à drogas mencionam quantidades de drogas que tem penas mínimas obrigatórias muito específicas – e isso é proposital. Se Ulbricht for condenado, vai passar um bom tempo na cadeia.”
A extensão a qual o caso estabelece precedentes só será definida quando o julgamento começar esta semana. Dratel disse que é “difícil prever” quanto tempo os procedimentos levarão, mas ele estima a duração em cerca de quatro semanas.
Tradução: Thiago “Índio” Silva
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