CONHEÇA 10 TRANSGÊNICOS QUE JÁ ESTÃO NA CADEIA ALIMENTAR.
Em janeiro, a agência que zela pela segurança alimentar nos Estados Unidos, a
Food and Drug Administration (FDA) aprovou para consumo um tipo de salmão
geneticamente modificado, reacendendo o debate sobre a segurança dos
transgênicos e suas implicações éticas, econômicas sociais e políticas.
É a primeira vez que um animal geneticamente modificado é aprovado para
consumo humano.
Mas muitos consumidores nos Estados Unidos, Europa e Brasil, regiões em que
os organismos geneticamente modificados (OGMs) em questão de poucos anos
avançaram em velocidade surpreendente dos laboratórios aos supermercados,
passando por milhões de hectares de áreas cultiváveis, continuam desconfiados da
ideia do homem cumprindo um papel supostamente reservado à natureza ou à
evolução - e guardam na memória os efeitos nocivos, descobertos tarde demais, de
"maravilhas" tecnológicas como o DDT e a talidomida.
Boa parte do público ainda teme possíveis efeitos negativos dos transgênicos
para a saúde e o meio ambiente.
Pesquisas de opinião nos Estados Unidos e na Europa, entretanto, indicam que
a resistência aos OGMs tem caído, refletindo, talvez, uma tendência de gradual
mudança de posição da percepção pública.
As principais academias de ciências do mundo e instituições como a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS) são unânimes em dizer que os transgênicos são
seguros e que a tecnologia de manipulação genética realizada sob o controle dos
atuais protocolos de segurança não representa risco maior do que técnicas
agrícolas convencionais de cruzamento de plantas.
O salmão transgênico, que pode chegar às mesas de jantar em 2014, será o
primeiro animal geneticamente modificado (GM) consumido pelo homem.
Vários produtos GM já estão nos supermercados, um fato que pode ter escapado
a muitos consumidores - apesar da (discreta) rotulagem obrigatória, no Brasil e
na UE, de produtos com até 1% de componentes transgênicos.
A BBC Brasil preparou uma lista com 10 produtos e derivados que busca revelar
como os transgênicos entraram, estão tentando ou mesmo falharam na tentativa de
entrar na cadeia alimentar.
MILHO
Com as variantes transgênicas respondendo por mais de 85% das atuais lavouras
do produto no Brasil e nos Estados Unidos, não é de se espantar que a pipoca
consumida no cinema, por exemplo, venha de um tipo de milho que recebeu, em
laboratório, um gene para torná-lo tolerante a herbicida, ou um gene para
deixá-lo resistente a insetos, ou ambos. Dezoito variantes de milho
geneticamente modificado foram autorizadas pelo CTNBio, órgão do Ministério da
Ciência e Tecnologia que aprova os pedidos de comercialização de OGMs.
O mesmo pode ser dito da espiga, dos flocos e do milho em lata que você
encontra nos supermercados. Há também os vários subprodutos - amido, glucose -
usados em alimentos processados (salgadinhos, bolos, doces, biscoitos,
sobremesas) que obrigam o fabricante a rotular o produto.
O milho puro transgênico não é vendido para consumo humano na União Europeia,
onde todos os legumes, frutas e verduras transgênicos são proibidos para consumo
- exceto um tipo de batata, que recentemente foi autorizado, pela Comissão
Europeia, a ser desenvolvido e comercializado. Nos Estados Unidos, ele é
liberado e não existe a rotulação obrigatória.
ÓLEOS DE COZINHA
Os óleos extraídos de soja, milho e algodão, os três campeões entre as
culturas geneticamente modificadas - e cujas sementes são uma mina de ouro para
as cerca de dez multinacionais que controlam o mercado mundial - chegam às
prateleiras com a reputação "manchada" mais pela sua origem do que pela presença
de DNA ou proteína transgênica. No processo de refino desses óleos, os
componentes transgênicos são praticamente eliminados. Mesmo assim, suas
embalagens são rotuladas no Brasil e nos países da UE.
SOJA
No mundo todo, o grosso da soja transgênica, a rainha das commodities, vai
parar no bucho dos animais de criação - que não ligam muito se ela foi
geneticamente modificada ou não. O subproduto mais comum para consumo humano é o
óleo (ver acima), mas há ainda o leite de soja, tofu, bebidas de frutas e soja e
a pasta misso, todos com proteínas transgênicas (a não ser que tenham vindo de
soja não transgênica). No Brasil, onde a soja transgênica ocupa quase um terço
de toda a área dedicada à agricultura, a CTNBio liberou cinco variantes da
planta, todas tolerantes a herbicidas - uma delas também é resistente a insetos.
MAMÃO PAPAYA
Os Estados Unidos são o maior importador de papaya do mundo - a maior parte
vem do México e não é transgênica. Mas muitos americanos apreciam a papaya
local, produzida no Havaí, Flórida e Califórnia. Cerca de 85% da papaya do
Havaí, que também é exportada para Canadá, Japão e outros países, vem de uma
variedade geneticamente modifica para combater um vírus devastador para a
planta. Não é vendida no Brasil, nem na Europa.
QUEIJO
Aqui não se trata de um alimento derivado de um OGM, mas de um alimento em
que um OGM contribuiu em uma fase de seu processamento. A quimosina, uma enzima
importante na coagulação de lacticínios, era tradicionalmente extraída do
estômago de cabritos - um procedimento custoso e "cruel". Biotecnólogos
modificaram micro-organismos como bactérias, fungos ou fermento com genes de
estômagos de animais, para que estes produzissem quimosina. A enzima é isolada
em um processo de fermentação em que esses micro-organismos são mortos. A
quimosina resultante deste processo - e que depois é inserida no soro do queijo
- é tida como idêntica à que era extraída da forma tradicional. Essa enzima é
pioneira entre os produtos gerados por OGMs e está no mercado desde os anos 90.
Notem que o queijo, em todo seu processo de produção, só teve contato com a
quimosina - que não é um OGM, é um produto de um OGM. Além disso, a quimosina é
eliminada do produto final. Por isso, o queijo escapa da rotulação obrigatória.
PÃO, BOLOS e BISCOITOS
Trigo e centeio, os principais cereais usados para fazer pão, continuam sendo
plantados de forma convencional e não há variedades geneticamente modificadas em
vista. Mas vários ingredientes usados em pão e bolos vêm da soja, como farinha
(geralmente, nesse caso, em proporção pequena), óleo e agentes emulsificantes
como lecitina. Outros componentes podem derivar de milho transgênico, como
glucose e amido. Além disso, há, entre os aditivos mais comuns, alguns que podem
originar de micro-organismos modificados, como ácido ascórbico, enzimas e
glutamato. Dependendo da proporção destes elementos transgênicos no produto
final (acima de 1%), ele terá que ser rotulado.
ABOBRINHA
Seis variedades de abobrinha resistentes a três tipos de vírus são plantadas
e comercializadas nos Estados Unidos e Canada. Ela não é vendida no Brasil ou na
Europa.
ARROZ
Uma das maiores fontes de calorias do mundo, mesmo assim, o cultivo comercial
de variedades modificadas fica, por enquanto, na promessa. Vários tipos de arroz
estão sendo testados, principalmente na China, que busca um cultivo resistente a
insetos. Falou-se muito no golden rice, uma variedade enriquecida com
beta-caroteno, desenvolvida por cientistas suíços e alemães. O "arroz dourado",
com potencial de reduzir problemas de saúde ligados à deficiência de vitamina A,
está sendo testado em países do sudeste asiático e na China, onde foi pivô de um
recente escândalo: dois dirigentes do projeto foram demitidos depois de
denúncias de que pais de crianças usadas nos testes não teriam sido avisados de
que elas consumiriam alimentos geneticamente modificados.
FEIJÃO
A Empresa Brasileira para Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, conseguiu em 2011 a
aprovação na CTNBio para o cultivo comercial de uma variedade de feijão
resistente ao vírus do mosaico dourado, tido como o maior inimigo dessa cultura
no país e na América do Sul. As sementes devem ser distribuídas aos produtores
brasileiros - livre de royalties - em 2014, o que pode ajudar o país a se tornar
autossuficiente no setor. É o primeiro produto geneticamente modificado
desenvolvido por uma instituição pública brasileira.
SALMÃO
Após a aprovação prévia da FDA, o público e instituições americanos têm um
prazo de 60 dias (iniciado em 21 de dezembro) para se manifestar sobre o salmão
geneticamente modificado para crescer mais rápido. Em seguida, a agência
analisará os comentários para decidir se submete o produto a uma nova rodada de
análises ou se o aprova de vez. Francisco Aragão, pesquisador responsável pelo
laboratório de engenharia genética da Embrapa, disse à BBC Brasil que tem
acompanhado o caso do salmão "com interesse", e que não tem dúvidas sobre sua
segurança para consumo humano. "A dúvida é em relação ao impacto no meio
ambiente. (Mesmo criado em cativeiro) O salmão poderia aumentar sua população
muito rapidamente e eventualmente eliminar populações de peixes nativos. As
probabilidades de risco para o meio ambiente são baixas, mas não são zero...na
natureza não existe o zero".
E ESTES NÃO DERAM CERTO...
A primeira fruta aprovada para consumo nos Estados Unidos foi um tomate
modificado para aumentar sua vida útil após a colheita, o "Flavr Savr tomato".
Ele começou a ser vendida em 94, mas sua produção foi encerrada em 97, e a
empresa que o produziu, a Calgene, acabou sendo comprada pela Monsanto. O
tomate, mais caro e de pouco apelo ao consumidor, não emplacou. O mesmo ocorreu
com uma batata resistente a pesticidas, lançada em 95 pela Monsanto: a New Leaf
Potato. Apesar de boas perspectivas iniciais, ele não se mostrou economicamente
rentável o suficiente para entusiasmar fazendeiros e foi tirada do mercado em
2001.
BBC Brasil by Estadão
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