segunda-feira, 12 de agosto de 2013

COMO FUNCIONA A FERRAMENTA DOS EUA PARA MONITORAR A WEB








"Sentado em meu escritório, eu tinha a capacidade de analisar qualquer um, desde um contador até um juiz federal, incluindo o presidente, desde que eu tenha o seu email pessoal", afirmou o ex-técnico da CIA Edward Snowden no dia 10 de junho, quando revelou ao mundo documentos que detalhavam o programa de espionagem online dos Estados Unidos.

Na última quinta-feira, 12 horas antes de Snowden finalmente sair do aeroporto de Moscou depois de um mês, o ex-técnico da CIA revelou novos documentos que parecem corroborar suas primeiras declarações.
Um artigo publicado no jornal britânico The Guardian revelou mais documentos secretos da NSA (Agência Nacional de Segurança americana) em que são detalhados o alcance da ferramenta usada pelos analistas da agência para ter acesso a grandes bases de dados onde estão endereços de email, trocas de mensagens instantâneas e históricos de busca e navegação de milhões de usuários.

O software se chama XKeyscore e tem acesso a "quase tudo o que o usuário típico faz na internet", de acordo com afirmações em um dos documentos da NSA.
As revelações sobre os planos de espionagem online da NSA causaram um debate internacional sobre os métodos de vigilância das agências de inteligência americanas.

A agência coletou dados de dezenas de milhões de telefonemas de cidadãos americanos e também teve acesso direto a servidores de nove empresas ligadas à internet, incluindo Facebook, Google, Microsoft e Yahoo, graças a um programa chamado Prisma.

Enquanto alguns se queixam da violação de privacidade dos cidadãos, outros, incluindo o presidente Barack Obama, afirmam que a estratégia é uma necessidade para garantir a segurança do país e que não expõe a privacidade dos usuários da web.

Sem autorização
Como o próprio Snowden divulgou em junho, um analista da NSA usando o XKeyscore pode ver, sem precisar de uma autorização judicial, as caixas de entrada e saída de email de qualquer pessoa apenas tendo em mãos seu endereço de correio eletrônico.

Para ver um email, o analista escreve em uma barra de busca do XKeyscore o endereço, uma "justificativa" e o período de tempo que quer analisar. Então, ele seleciona o email e lê em uma plataforma especial.
Mas, se o analista não tiver o endereço do correio eletrônico, também pode encontrar emails pessoais com uma série de filtros que seleciona no menu do XKeyscore. Desta forma, o analista pode encontrar um email usando o nome do remetente, um endereço de IP e até com palavras-chave.

Mas, além dos emails, o software também permite que os analistas da NSA leiam o conteúdo que os usuários produzem nas redes sociais.

Com uma ferramenta chamada DNI Presenter, a NSA pode ler conversas particulares e chats no Facebook ou qualquer outra rede social com o nome do usuário e o período de tempo em que se emitiu a mensagem.

O XKeyscore também pode ser usado para ver o histórico de busca dos usuários de internet com seu nome, endereço de IP, palavras-chave, entre outros dados.

A ferramenta permite ainda a intervenção em tempo real na navegação de um internauta para descobrir o que ele está fazendo na web.

Segundo o Guardian, "a quantidade de comunicações a que a NSA tem acesso por meio de programas como o XKeyscore é assustadoramente grande".
O jornal cita um relatório da agência de 2007 que estimou que a NSA havia armazenado 850 bilhões de chamadas e cerca de 150 bilhões de registros de internet. A cada dia, segundo o documento, foram adicionados de um a dois bilhões de registros.

Reações e críticas
"As atividades da NSA se concentram e se desenvolvem especificamente contra, e apenas contra, os objetivos estrangeiros legítimos da inteligência em resposta aos requisitos que nossos líderes necessitam para proteger nossa nação e seus interesses", afirmou a NSA em um comunicado ao Guardian.

No entanto, a revelação dos novos documentos gerou mais críticas ao planos de vigilância do governo americano.
Quando foram publicados os primeiros documentos vazados por Snowden, o governo de Obama afirmou que a NSA estava apenas recolhendo as informações de metadata - detalhes como data, hora, destinatário e remetente - das mensagens. Mas não o conteúdo.

"A apresentação do XKeyscore mostra como estas palavras eram vazias", afirmou Amy Davidson, articulista da revista The New Yorker. E não são poucos que concordam com ela.

by DefesaNet

JULIAN ASSANGE, BRADLEY MANNING E EDWARD SNOWDEN: personagens ligados por uma só história







Julian Assange, um membro da cultura cypherpunk e editor do site Wikileaks, é um dos  mais ferrenhos defensores da liberdade e privacidade na web estando entre os primeiros a alertar sobre os perigos da ciberespionagem  praticada por governos contra seus cidadãos e o dos demais países da comunidade internacional. Chegou a afirmar que a sociedade online possuía uma tendência de ser dividida entre “interceptores e interceptados”, o que considera uma nova forma de totalitarismo.  Em 2010, com as revelações de Bradley Manning, entregando cópias de milhares de documentos secretos da inteligência militar e diplomática norte americana ao Wikileaks, as ideias de Assange a este respeito, passaram a ser conhecidas internacionalmente, mas ainda com certo ceticismo, por parte da opinião pública mundial que o via como um teórico da conspiração.

Ele criou muita polêmica ao alertar que as empresas que desenvolvem sofwares possuíam  vínculos estreitos com a comunidade de inteligência dos EUA uma vez que seus engenheiros e matemáticos eram, em sua maioria, oriundos da Agência de Segurança Nacional (NSA) e que, “estes dispositivos são deliberadamente falhos com um propósito específico, o de permitir o acesso a segredos e informações confidenciais de qualquer natureza”. E o fato de que, dez das doze empresas provedoras da internet existentes no mundo serem norte americanas, aumentava consideravelmente a possibilidade de acesso não permitido a dados confidenciais de governos, empresas privadas ou mesmo pessoais em momento oportuno.

Dois anos após os episódios que culminaram com o maior vazamento de documentos sigilosos da história da inteligência estadunidense, surge um terceiro personagem, que viria ratificar, de forma inconteste, o posicionamento inicial de Assange.  Edward Snowden, que assim como Manning, foi um segundo “homem bomba” por suas revelações bombásticas publicadas no jornal inglês The Guardian, sobre programas ultra-secretos desenvolvidos especificamente para permitir o acesso a informações sigilosas e a existência de uma rede de espionagem global liderada pela NSA que violava e-mails e telefonemas deliberadamente, a partir dos atentados terroristas de 11-S, com diferentes motivações além do discurso diversionista de proteção a segurança nacional. A prova material se revelou com a espionagem a países membros da ONU, por ocasião da votação de sansões contra o Irã, por conta de seu programa nuclear, onde a vitória na aprovação destas   sansões  já era conhecida antes mesmo de ser votada.

A partir de Snowden, outros fatores, aparentemente inocentes, passaram a  fazer sentido no quebra-cabeça da espionagem digital. O principal, talvez seja a existência do megacomplexo da NSA em Utah, com capacidade para armazenar a colossal cifra de cinco  trilhões de gigabytes  ou o  equivalente a 250 bilhões de DVDs.

Embora até o momento, a espionagem possa estar direcionada para fins econômicos, de segurança e defesa e outras questões  estratégicas de interesse dos EUA e de outras nações, surge uma grande e preocupante  incógnita em todo este cenário. Estaríamos diante de uma nova forma de dominação digital? O ciberespaço seria o substituto das armas nucleares em um novo conflito psicológico assim como ocorreu na Guerra Fria? 





André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
by DefesaNet

 


RADICAIS DE RUA E O ANARQUISMO






É possível que o Estado brasileiro não esteja dedicando a necessária atenção aos grupos radicais que se especializaram em destruir prédios públicos, agências bancárias, lojas e agências de automóveis, aproveitando-se das passeatas legítimas de grupos que fazem postulações públicas de direitos. Destruir o patrimônio público e privado é crime, significando que não se poderá admitir que esses atos de violência continuem impunes.

Não se deseja que ocorra a violência como resposta do Estado. No entanto, o fingir que nada de grave acontece representaria um sério risco para o País, pelo exemplo perigoso, que se propaga, sem que se tenha notícia da punição efetiva dos infratores.

Um desses grupos radicais, praticando o que a duvidosa inteligência lhes permite, se autointitula anarquista e age aparentemente com o propósito de chamar a atenção, e com isso, quem sabe, agrupar mais pessoas iguais. O anarquismo é coisa tão fora de moda que talvez a maior parte das pessoas nem saiba o que significa.

Trata-se de uma filosofia meio preguiçosa, negadora dos valores sociais e políticos que prevalecem no mundo contemporâneo, tais como a ordem, a propriedade privada, a submissão à lei. A doutrina, de pouquíssima expressão na História da humanidade, é contrária a qualquer forma de governo e prega a ausência de coerção. Faz lembrar aquilo que se costuma dizer, jocosamente, de alguns espanhóis: "Si hay gobierno, soy contra".

É inacreditável que esses grupos radicais, nascidos recentemente, façam tanta baderna, livremente, e que o aparelho de Estado ainda não tenha encontrado a forma de impedir os prejuízos públicos e privados por eles causados. Os integrantes desses grupos se infiltram facilmente nas manifestações populares de reivindicações de direitos.

Com o rosto coberto por máscaras e bombas artesanais (coquetéis molotov) escondidas nas mochilas, passaram a cometer os ilícitos repetidamente. Com isso as passeatas de jovens tão bem-intencionados acabaram por se prestar a uma finalidade diversa da que pretendiam.

O exemplo desses radicais é pernicioso ao extremo, porque se traduz na ideia de impunidade. Eles perceberam que podem existir, alarmar, cometer tais crimes e desaparecer na multidão.

Sem nenhuma dúvida, essa conduta pode converter-se em grave problema de ordem pública e, pior, tornar-se endêmica caso o serviço de inteligência das Polícias Civis e Militares (PM) não encontre a fórmula certa para combatê-la.

As manifestações populares são previamente conhecidas das Polícias Civil e Militar e quase como regra nelas aparecem os baderneiros mascarados, prontos para a destruição de bens públicos e privados. Difícil é entender as razões por que não há o acompanhamento necessário de segurança para impedi-la.

O jurista italiano Giuseppe Chiovenda lançou em sua obra Dos Delitos e das Penas, quase cem anos atrás, uma afirmação que ainda hoje ecoa no mundo jurídico e é sempre repetida: o que faz diminuir a incidência dos delitos não é a crueldade das penas, mas a certeza da punição. Realmente, onde existe certeza da punição a criminalidade cai verticalmente.

Mas, alertava ele, sem a certeza da punição ocorre exatamente o contrário, ou seja, propaga-se a ideia de impunidade. Lamentavelmente isso vem ocorrendo no Brasil de nossos dias, porque os autores desses crimes cometidos na presença de centenas de pessoas não têm recebido a necessária punição.

Quando detidos pela Polícia Militar, são levados às delegacias de polícia para ser lavrada a ocorrência e, em seguida, libertados, pela convicção que prevalece de suas ações de vandalismo não se tratarem de delitos de grave potencial ofensivo. Existirá, contudo, algo que propague de forma mais direta a ideia de impunidade do que milhões de brasileiros assistirem, pela televisão, à prisão desses baderneiros seguida de sua libertação?

Sem o menor temor da polícia, e seguros de que não haverá punição severa, os grupos de infratores são estimulados a grudar nos grupos de pessoas que vão realizar manifestações em defesa de direitos.

Os primeiros protestos de junho, nascidos em São Paulo, serviram para tirar o Brasil de uma espécie de letargia que o dominava havia décadas. O jornal espanhol El País em diferentes ocasiões satirizou a acomodação do povo brasileiro, que se mostrava capaz de fazer passeatas a favor da maconha, paradas gay com até 1 milhão de manifestantes, mas tolerava de forma absurda a ocorrência incessante dos atos de corrupção.

A fase de tolerância pública, felizmente, ficou para trás. Sempre que um ciclo cultural chega ao fim, outro imediatamente tem início - e hoje todos vemos, com admiração, que a cobrança pública feita aos políticos começa a dar resultados e a deixar claro que essa nova dialética é proveitosa e poderá ser útil ao longo do tempo. Reclamar, exigir, discordar, isso foi aos poucos exibindo a nova cara do Brasil.

No dia em que foi realizada a primeira manifestação popular brasileira, em São Paulo, motivada pelo aumento na passagem de ônibus, trens e metrô, houve da parte da Polícia Militar certo exagero no controle dos grupos que se deslocavam pela cidade. A repercussão negativa foi tão grande que provocou resultado inverso: a PM passou simplesmente a acompanhar os manifestantes, tolerando os exageros. Ora, na presença de crime não pode haver omissão do Estado, sob pena de representar um estímulo à impunidade.

Cada vez que um crime é praticado na presença dos encarregados de manter a ordem, e estes não cumprem o seu papel, verifica-se praticamente a ocorrência de outro crime, isto é, deixar de cumprir a lei.



ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR
 Desembargador Aposentado do TJ de SP   via  DefesaNet